De modo geral, os problemas que propomos aos nossos alunos são do tipo padrão. Isto é: • podem ser resolvidos pela aplicação direta de um ou mais algoritmos; • a tarefa básica, na sua resolução, é identificar que operação ou algoritmo são apropriados para mostrar a solução e transformar a linguagem usual em linguagem matemática; • a solução numericamente correta é ponto fundamental; • a solução sempre existe e é única; • o problema é apresentado por meio de frases, diagramas ou parágrafos curtos e vem sempre após a apresentação de determinado conteúdo ou algoritmo; • todos os dados de que o resolvedor necessita aparecem explicitamente no problema; • não exige qualquer forma de resolver mais elaborada para sua solução. Combinadas estas características, a maioria dos problemas convencionais acaba transformando o que deveria ser um processo de investigação em uma retórica de formular e responder questões e gera uma busca frenética por uma sentença matemática que leve a uma resposta correta. Quando adotamos os problemas padrão como único material para o trabalho com resolução de problemas na escola, podemos levar o aluno a uma postura de fragilidade diante de situações que exijam criatividade. Ao se deparar com um problema em que não identifica a operação a ser utilizada, só lhe resta desistir e esperar a resposta do professor ou de um colega. Algumas vezes, ele resolverá o problema mecanicamente sem ter entendido o que fez e não será capaz de confiar na resposta que encontrou, ou mesmo de verificar se ela é adequada aos dados apresentados no enunciado. Por envolver, entre outros aspectos, a coordenação do conhecimento, experiência anterior, intuição, confiança, análise e comparação, a resolução de problemas é uma atividade complexa que não pode ser reduzida a um algoritmo por meio do qual o aluno chegue a uma solução seguindo regras pré-estabelecidas. Para iniciar uma mudança nesse quadro, é preciso, em primeiro lugar, que consideremos um problema como uma situação na qual o resolvedor não tem a garantia de obter a solução com o uso direto de um algoritmo. Tudo que ele conhece tem de ser combinado de maneira nova para que ele resolva o que está sendo proposto. Deste modo, um bom problema deve ser interessante, desafiador e significativo para o aluno, permitindo que ele formule e teste hipóteses e conjecturas. Em segundo lugar, é necessário estabelecer metas para o trabalho com resolução de problemas na escola básica: • desenvolver e aplicar estratégias para resolver uma grande variedade de problemas; • formular problemas a partir de situações matemáticas ou não; • verificar e interpretar resultados com respeito ao problema proposto; • usar resolução de problemas para investigar e entender os conteúdos matemáticos; • adquirir confiança em usar matemática. Isto implica em dizer que nossa proposta para resolução de problemas não se restringe a uma simples instrução em como se resolver um problema ou determinados tipos de problemas. Não se trata também de considerar resolução de problemas como um conteúdo isolado dentro do currículo. Acreditamos que resolução de problemas é uma metodologia de trabalho por meio da qual os alunos são envolvidos em “fazer” matemática, isto é, eles tornam-se capazes de formular e resolver por si questões matemáticas e, com a possibilidade de questionar e levantar hipóteses, adquirem, relacionam e aplicam conceitos matemáticos.
Sob esse enfoque, resolver problemas é um espaço para fazer colocações, comunicar idéias, investigar relações, sendo, portanto, um momento para desenvolver noções e habilidades matemáticas. Desenvolver a habilidade de resolver problemas pode criar conexões entre o entendimento informal que a criança traz para a escola e o conhecimento formal esboçado pelo currículo de matemática. Esta mudança de postura exige também que busquemos outras fontes, além do livro didático, que propiciem ao aluno a aquisição de novos conceitos ou habilidades e, neste trabalho, tentamos mostrar que a literatura infantil explorada via metodologia da resolução de problemas é um recurso rico para ser utilizado com esta finalidade. A literatura, seja poesia, histórias, fábulas ou contos, é facilmente acessível e proporciona contextos que trazem múltiplas possibilidades de exploração que vão desde a formulação de questões por parte dos alunos, até desenvolvimento de múltiplas estratégias de resolução das questões colocadas. Esta conexão da matemática com a literatura infantil propicia um momento para aprender novos conceitos ou utilizar os já aprendidos. Ao longo do trabalho são feitas tentativas no sentido de matematizar uma dada situação apresentada num texto e a idéia central é estabelecer um caminho que ajude a percepção matemática dos alunos.
Postado no site: www.scribd.com/doc/3347544/Matematica-A-leitura-e-a-Literatura-nas-Aulas-de-Matematica - 653k Acesso em: 08/05/2009